Humildade e Oração

Por Cacau Marques

“Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim. De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança. Ponha a sua esperança no Senhor, ó Israel, desde agora e para sempre!
Salmos 131:1-3

O Salmo 131 destaca um elemento bastante presente nas páginas da Bí­blia e estranhamente ausente dos púlpitos das igrejas contemporâneas: a relação entre humildade e Oração. As conquistas humanas das últimas décadas encheram nosso coração de soberba. Acreditamos que não haja problema algum que não possamos solucionar com nossa inteligência, força e tecnologia. Para cada dificuldade do cotidiano surgem diversos programas de computador, aparelhos eletrônicos e técnicas cientí­ficas que prometem facilitar a nossa vida.

Isso não é um problema, muito menos um pecado. Todos nós usufruí­mos dos avanços tecnológicos e celebramos as conquistas da ciência. Mas o deslumbramento causado pela confiança excessiva no progresso humano frequentemente nos engana, passando uma imagem de onipotência do homem que está longe de ser verdadeira. O homem frequentemente se esquece de seus limites. E, pior, muitas vezes só se lembra desses limites quando encara uma situação para a qual não tem a solução.

Muitos se voltam pra Deus nesse momento, no momento em que a esperança em suas próprias forças transforma-se em desespero completo. Aí­ pode já ser tarde. Ainda que para o Eterno Deus nunca seja “tarde demais”, o tempo de vida gasto no orgulho pode já ter deixado marcas ou consequências dolorosas.

Diante disso, o salmista recomenda outra atitude: a de criança no colo da mãe. Humildemente reconhecemos que somos dependentes do esforço materno de nos nutrir. Não temos coração orgulhoso ou olhos arrogantes, mas uma alma descansada, humilde e grata no colo de nosso Deus. Cumprimos assim o mandamento de Pedro que diz “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes. Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido. Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês” (1 Pe 5:5b-7). Descansamos porque nos humilhamos. Confiamos porque reconhecemos que não somos capazes de alcançar a felicidade e a paz por nós mesmos.

Assim deve ser nossa oração. Quando nos aproximamos de Deus para pedir algo, não vamos como um trabalhador que quer sacar seu benefí­cio na boca do caixa. Vamos como uma criança que é amamentada e que sabe que á amamentada por uma mãe amorosa. Vamos confiantes na misericórdia e Graça, humildes diante do Deus que “dá de graça todas as coisas” (Rm. 8:32). Por isso nos ajoelhamos para orar. Não porque o gesto fará nossa oração maior, mas porque ela nos lembrará de que somos menores.